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Sábado, 13.10.12

Artigo de opinião por: João Richau

E nós que pensávamos que já tínhamos visto tudo... 

 

Nas últimas décadas, Portugal e o mundo assistiram a uma sucessão de Governos portugueses, de qualidade e práticas muito duvidosas, que segundo opinião generalizada, foram sucessivamente menos competentes. E os inquéritos de opinião confirmam-no. Ao ponto do presente Governo pouco mais ser do que uma espécie de contabilista-mor. A sua única preocupação parece ser o deve e o haver da nação, por encomenda do patrão, a famigerada Troika. Quando o país, finalmente, entrar nos eixos, já todos os seus habitantes normais morreram à míngua. 

 

Mas o mal começou muito cedo, ainda no tempo em que Cavaco Silva era Primeiro-Ministro. Quem não se recorda do famoso Centro Cultural de Belém, a que alguns, depreciativamente, chamaram à época de Centro Comercial de Belém?  O imóvel estava orçamentado em qualquer coisa como pouco mais de 8 milhões de contos e acabou por custar aos contribuintes mais de 40 milhões de contos e nem sequer ficou concluído. É uma das maiores derrapagens financeiras da nossa história. Foi também neste consulado que o país se encheu de autoestradas, principalmente o litoral e que, praticamente, se extinguiram as pescas e a agricultura. Foram também esses os anos das fraudes do Fundo Social Europeu e muitas outras peripécias que recordo, mas que agora não vêm ao caso. Por que razão o país não estoirou logo nesses anos? Porque vieram fundos comunitários que tudo abafaram. Quando havia problemas, desvalorizava-se o escudo e a inflação era então de dois dígitos. O povo perdia rendimentos das duas formas. 

 

A seguir vieram os ainda faustosos dias de Guterres, que iniciaram a moda dos exílios políticos. Desde Guterres, inclusive, nenhum Primeiro-Ministro sobreviveu ao cargo com a coragem mínima para enfrentar os seus concidadãos olhos nos olhos depois de sair. A única exceção é a de Santana Lopes. Mas esse não chegou propriamente a ser Primeiro-Ministro e não tinha para onde ir, porque ninguém o queria por perto... Guterres, que quase se ia afogando no pântano, fugiu para a ONU, onde continua Alto-comissário para os Refugiados e de vez em quando aparece quase de mão dada com Angelina Jolie. Ou seja, vive uma espécie de exílio cor-de-rosa! Durão Barroso fugiu para Bruxelas na primeira oportunidade, para um exílio dourado, onde se tem eternizado com os resultados que estão à vista - a desagregação da União Europeia, recentemente premiada com o Nobel da Paz. De facto, as sumidades europeias conseguiram destruir a Europa sem disparar qualquer tiro e sem largar sequer uma bomba. Merecem o prémio. Mais recentemente, José Sócrates evadiu-se para Paris, para estudar uma especialidade que faz jus ao seu nome, para uma espécie de exílio etéreo, onde esturra mensalmente cerca de 15000 euros, que não se sabe muito bem de onde provém. Até alguns ilustres membros da oposição, por motivos distintos, se viram forçados ao exílio. João Cravinho foi corrido para Londres, quando meteu a boca no trombone e ameaçou a paz celestial do enriquecimento ilícito. Ferro Rodrigues autoexilou-se na UNESCO por motivos que todos recordamos. Outros, que entretanto se dedicaram aos negócios obscenos, levando à ruína o BPN, andam cá e lá, num vaivém incessante. Mas o dinheiro que arrebanham só vai de cá para lá. Alguns, que ficaram em Portugal, exilaram-se nas próprias casas, com pulseira eletrónica ou com medo de sair à rua. Entre eles até existe um acusado de homicídio. 

 

Atualmente, é Passos Coelho e os seus apaniguados que andam a espadanar no pântano. Até ver, Passos aconselhou os portugueses desempregados, os jovens e os carenciados, dos quais não consegue sugar nem sequer um cêntimo, a exilarem-se por esse vasto mundo fora. Os que ficam são espoliados sem misericórdia. Receio e espero que o mesmo dure pouco tempo no cargo. E ocorre-me questionar para onde fugirá depois de tanta maldade feita? A empresa que administrou sabiamente abriu falência. Os dinheiros dos programas FORAL e as verbas para formação de técnicos de aviação, que nunca viram sequer um avião, que soube magistralmente canalizar para a empresa, com a ajuda do canalizador Relvas, já se esfumaram. Para onde fugirão brevemente estas criaturas? 

 

Entretanto, o País viajou no tempo. Regressou a algumas décadas atrás, quando era conhecido no mundo como um país de viúvas, de pobres e de miséria. Gerações inteiras de políticos conduziram-nos não ao futuro que prometiam, mas sim a um passado que muitos de nós ainda recordam sem saudade. Mas com agravantes. Aqueles que pretendiam acabar com os ricos apenas alcançaram a sua redução. Mas os ricos sobreviventes são hoje detentores de fortunas nunca vistas em território português, ainda que tais fortunas se tenham refugiado em paraísos fiscais. Aqueles que pretendiam acabar com os pobres, apenas conseguiram multiplicá-los. Mas num aspeto, os políticos democráticos conseguiram ultrapassar os da ditadura. O Povo Português é hoje um povo sem esperança. Sem esperança que alguém os possa salvar. Sem esperança que um novo regime os redima. Pura e simplesmente, olhando à nossa volta, só se vêem sinais de desgraça. E nem sequer pode clamar por liberdade, pois a liberdade existe. Cada um queixa-se para seu lado. Todos se queixam, mas não há quem nos possa acudir. Sem trabalho, sem pão, sem esperança, de que nos serve a liberdade?

 

João Richau

Outubro de 2012 (ano segundo do assalto do Estado às pensões, aos salários, aos direitos sociais e à dignidade do povo)

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